sábado, 23 de abril de 2011

le mani

Vamos fazer nada novamente,
murmurar canções antigas, ou berrá-las e dançá-las.
O meu andar é engraçado e quem vê duvida
da minha sobriedade, mas ela é tão real.
É maior do que a deles, é maior do que a deles.

Há alguns anos eu tinha mãos pequenas
com dedos pequenos
que passavam no vão da caixinha de correspondência dos vizinhos.
Contas nunca foram tão decepcionantes
como quando o que eu procurava eram cartas
de amor, de amizade, cartas secretas de outra cidade

Há alguns dias eu tinha aquelas mãos,
quase as mesmas de agora, e elas passavam
pelos seus cabelos, e elas seguravam
as suas mãos enquanto tagarelávamos.
Mas a minha atenção estava no entrelaçar dos dedos.

E no futuro, quem sabe, essas mãos compridas
com dedos finos
passarão pelas caixinhas de correspondência dos vizinhos
por engano, e encontrar a minha será decepcionante
pelo número de contas tão maior do que o de cartas
sem papel, sem letras, sem remetente, sem nada.