quinta-feira, 25 de agosto de 2011

fuga



Meus olhos andaram caçando o céu

Descobriram-no escondido atrás dos monstros de pedra

Meus olhos cansados fecharam-se

Por indeterminado tempo

Meus ouvidos esconderam-se dos sons

Agressivos, abundantes, anormais

Sob minhas mãos cansadas de aspereza.

Inspirei para que os sentidos poupados eu compensasse

E descobri o ar puro como incrível utopia.

Céus, eu abro mão destes sentidos por um dia.

Eu quero me esconder na mente brilhante daquele garoto

Aquele garoto homem, que se esconde na minha sem saber.

sábado, 20 de agosto de 2011

qualquer manhã

Eu encontrei a porta escancarada de manhã
E um bilhete seu, gentil e reticente,
Dizendo que logo voltava,
Pedindo que eu esperasse.
Amassei-o, indiferente, e pensei
"Enfim, acabou esse impasse!"
Coloquei de volta as margaridas na janela
E joguei fora suas garrafas vazias.
Qualquer resquício de saudade eu guardei
No fundo da gaveta de calcinhas.
Aposentei aquele cinzeiro fedorento,
Troquei-o por um jardim japonês.
Procurei o resto de amor pra jogar fora,
E percebi que havia acabado há mais de mês.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

tem coisa que não muda

Deitei sobre a grama de ninar e sorri
ao céu granulado de estrelas, que sorriam
de volta aos meus olhos bobos. Fiquei
ali a conversar, a suspirar, contar
histórias para a Lua sobre o amar, o mar
de tristeza e de alegria que é sentir.
Aos poucos, as estrelas despediam-se de mim.
Aos poucos, o céu ficava anil; o Sol
se erguia majestoso ao horizonte, e logo
abraçava a vasta imensidão da minha vista;
a brisa quente me acarinhou e eu adormeci.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

um trecho

[...]
O grande - e sempre insolúvel - problema é que pretendemos ser diferentes do que podemos ser. Buscamos nos moldar e aparecer a partir de uma preocupação com o reconhecimento - por parte dos outros - como pessoas especialíssimas. Perdemos nossa identidade e desperdiçamos nossa face mais autêntica. Representamos para uma platéia e esquecemos de viver.

Devemos nos propor à nossa própria descoberta. Desvendar o enigma que somos e romper nossas fronteiras, na verdade muito mais vastas e menos intransponíveis do que pensamos. Somos inventores de nossos limites.
[...]

Por: Luis Humberto, em "Fotografia, a Poética do Banal"