sábado, 26 de fevereiro de 2011

bittersweet

E se o calor do Sol me tocasse
e eu não sentisse nada?
Se tivesse esse prazer vetado,
que bem me faria?
Ou se fosse, então, insensível,
à amena brisa matinal
e não sentisse o aroma de gramíneas
que ela traz por gentileza?
A falta desses detalhes levaria
de minha vida toda a beleza.

Mas e se eu fosse imune
às pancadas gélidas do granizo,
ao queimar nocivo da chama,
à doença que o corpo inflama,
não seria maravilhoso?
Não seria maravilhoso.
Estaria eu abrindo mão do calor,
da brisa, do aroma de gramíneas,
da beleza, da vida,
da beleza da vida.

Prefiro sentir tudo a sentir nada,
A bonança e a tempestade são lados
da mesma moeda.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

devaneio

O mundo é meu canto secreto.
No silêncio das conversas alheias
minha mente sussurra sonhos antigos
e me lembro do que ainda não aconteceu
ao me perder no zunir dos carros.
E se eu deitar sobre a grama macia,
minha cabeça vai além e desce
ao centro da Terra, e queima
com seu núcleo tão antigo e flamejante.
E queima: prazerosa ou dolorosamente
nesse lugar tão particular que é o mundo.
É meu. E me atrevo a passar pelas vidas
e permanecer em quase nenhuma...
E anseio fazer sorrir, mesmo permanecendo
anônima, sem rosto, sem documento.
É tudo experiência incerta:
quem está completamente certo?